segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Como é que eu fico sem sexo

ninfo




Tem gente que não gosta de chocolate. Tem gente que não gosta de esportes. Tem gente que não gosta de computador. Tem quem não suporta cheiro de cigarro – ou que odeia cerveja. E tem gente que não gosta de sexo. Gente que não gosta de sexo?!
De acordo com pesquisa feita pelo Projeto Sexualidade da Universidade de São Paulo (USP), que entrevistou mais de sete mil pessoas das cinco regiões do país, 7,7% das brasileiras e 2,5% dos brasileiros não só não fazem sexo como também juram não sentir falta do ato – assexuados, muito prazer.
A ciência os chama de “sexualmente indiferentes”. Indiferença, entretanto, é um dos poucos sentimentos que eles parecem não nutrir em relação à sua opção. Agrupados em comunidades que vão além do universo cibernético, os assexuados aproveitam para defender seu comportamento e citar vantagens da abstinência. Alguém se habilita?
Sem sexo, com nexo
Maria das Dores tem 64 anos e mora sozinha, com seu cachorro Guinho, numa pequena casinha. No quintal, uma horta com pés de tomate e alface que consome, em cuidados, grande parte de seu dia. Ela nunca se casou e nunca teve filhos. A propósito, Maria nunca viveu uma relação sexual. “Não foi por falta de oportunidade”, conta a professora aposentada.
Ainda loira e sem nenhum fio grisalho, Maria sempre foi uma mulher bonita. “Alguns me acham parecida com a Xuxa”, gaba-se. Namorado sério, só teve um, aos 20 e poucos anos, e dela ele não conseguiu roubar mais que um beijo. Para Maria, um único motivo foi suficiente para manter sua virgindade preservada até hoje: ela confessa ter aversão ao ato sexual, o que a impede de qualquer tentativa de contato íntimo.
O motivo de Maria é, de longe, o mais citado entre os adeptos do assexualismo. Entre as outras razões apontadas, eles criticam a supervalorização dispensável do sexo na sociedade e, alguns, as experiências prévias desagradáveis acerca do ato. No caso do estudante E.C.P., de 23 anos, por exemplo, o assexualismo nasceu de um trauma. O jovem, que mantém um diário virtual em anonimato, escreve sobre um suposto abuso sofrido na infância que teria lhe conferido um receio sem proporções da prática sexual.
Sexo é indispensável, doutora?
Embora menos comuns, casos como o de E.C.P. também preenchem as consultas da terapeuta sexual Lindamara França. Na profissão já há quase dez anos, ela explica cientificamente o assexualismo como uma espécie de distúrbio. “Existem três fases no ato sexual: desejo, excitação e orgasmo, nessa ordem”, enumera. “O ponto de partida para a assexualidade é a dificuldade do indivíduo em lidar logo com a primeira fase, o desejo, lhes falta motivação”, explica.
Para a sexóloga, pode-se ainda citar outros motivos para o desinteresse sexual, entre eles a inibição excessiva, a fobia, e ainda alterações orgânicas referentes a hormônios. “A assexualidade é potencialmente reversível, seja ela tratada com terapia específica ou medicação, dependendo do fator por qual foi gerada”, afirma.
A psicóloga Jamile Rieche, entretanto, encara o desinteresse sexual mais como uma opção pessoal de vida. “O sexo é um impulso natural do ser, como dormir e comer. Há, entretanto, diversas formas de lidar com tais impulsos: há quem tenha restrições quanto aos alimentos, por exemplo. É a mesma coisa com o sexo”, declara.
Por mais que considere o assexualismo apenas uma ‘orientação sexual’, Rieche cita fatores capazes de desencadeá-lo. “Por conta da história, dos costumes, acabou-se criando uma repressão em torno do sexo”, diz. Esse tabu “produzido”, segundo a psicóloga, serve para estabelecimento de regras sexuais dentro da sociedade, que reprimem, inconscientemente, o desejo de alguns.
Driblando o sexo
Foi criado na China um site de namoro voltado ao público assexual. A procura pela página surpreendeu e foi noticiada nos mais importantes veículos do país. O público alvo do site, entretanto, não é formado por quem evita de propósito o prazer erótico: os cadastrados são assexuados por necessidade, ou seja, apresentam, digamos, “dificuldades de desempenho”.
Um abraço, um carinho, dormir juntinho e – pasmem – até beijos de língua! Essas carícias são freqüentes entre indiferentes sexuais que mantêm relacionamentos amorosos. “A diferença está na não consumação do ato sexual propriamente dito. O afeto pode, sim, existir, no conceito deles”, explica a psicóloga Rieche. “Eles acreditam que não é necessário o sexo para se demonstrar e aproveitar o amor: podem ser muito românticos nesse ponto”, conclui.

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